Diferenciando surdaceigueira de deficiência multipla
A surdocegueira é uma deficiência única em que o indivíduo apresenta ao mesmo tempo perda da visão e da audição. É considerado surdocego a pessoa que apresenta estas duas limitações, independente do grau das perdas auditiva e visual. A surdocegueira pode ser congênita ou adquirida e não é deficiência múltipla. Segundo o fascículo (AEE-DM), as pessoas surdocegas estão divididas em quatro categorias: pessoas que eram cegas e se tornaram surdas; que eram surdos e se tornaram cegos; pessoas que se tornaram surdocegos; pessoas que nasceram surdocegos, ou se tornaram surdocegos antes de terem aprendido alguma linguagem.
Deficiência múltipla é quando uma pessoa apresenta mais de uma deficiência, “é uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento social” (fascículo DMU). As pessoas com deficiência múltipla apresentam características específicas, individuais, singulares e não apresentam necessariamente os mesmos tipos de deficiência, podem apresentar cegueira e deficiência mental; deficiência auditiva e deficiência mental; deficiência auditiva e autismo e outros.
O corpo é a realidade mais imediata do ser humano. A partir e por meio dele, o homem descobre o mundo e a si mesmo. Portanto, favorecer o desenvolvimento do esquema corporal da pessoa com surdocegueira ou com deficiência múltipla é de extrema importância.
Para que a pessoa possa se auto perceber e perceber o mundo exterior, devemos buscar a sua verticalidade, o equilíbrio postural, a articulação e a harmonização de seus movimentos; a autonomia em deslocamentos e movimentos; o aperfeiçoamento das coordenações viso motora, motora global e fina; e o desenvolvimento da força muscular.
As pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla, que não apresentam graves problemas motores, precisam aprender a usar as duas mãos. Isso para servir como tentativa de minorar as eventuais estereotipias motoras e pela necessidade do uso de ambas para o desenvolvimento de um sistema estruturado de comunicação.
Devido às dificuldades fonoarticulatórias, motoras ou mesmo neurológicas, é comum nessas pessoas algum tipo de limitação na comunicação e no processamento e elaboração das informações recolhidas do seu entorno. Isso pode resultar em prejuízos no processo de simbolização das experiências vividas, por acarretar carência de sentido para as mesmas.
Prioritariamente deve-se, portanto, disponibilizar recursos para favorecer a aquisição da linguagem estruturada no registro simbólico, tanto verbal quanto em outros registros, como o gestual, por exemplo.
Mesmo quando a deficiência predominante não é na área intelectual, todo trabalho com o aluno com deficiência múltipla e com surdocegueira implica em constante interação com o meio ambiente. Este processo internacional é prejudicado quando as informações sensoriais e a organização do esquema corporal são deficitárias. Prever a estimulação e a organização desses meios de interação com o mundo deve fazer parte do Plano de AEE.
A comunicação é extremamente importante na vida de qualquer pessoa, e ela ocorre por meio de diferentes situações. Entretanto, o processo de comunicação que ocorre de forma natural e facilmente para a maioria das pessoas pode ser “especialmente” difícil para pessoas com deficiências neuromotora, surdocegueira, deficiência múltipla, pessoas com deficiência intelectual que não falam e pessoas com transtornos globais de desenvolvimento. A maneira como pessoas como elas se comunicam pode ser muito diferente do modo que é utilizado pelo seu parceiro de comunicação.
Segundo Amaral (1997, p.8) :
Comunicação é mais do que ser capaz de usar a fala ou mesmo de desenvolver linguagem. A fala é apenas uma
capacidade motora de expressão oral de elementos que nos servem como instrumento de transmissão da linguagem. Pode ser substituida por outros instrumentos como o gesto, a escrita ou sistemas gráficos. Para que seja funcional implica sempre o desenvolvimento subjacente da linguagem. A linguagem é um sistema simbólico. É a capacidade de usar um conjunto de regras que definem a estrutura do código utilizado. Este código varia em função da comunidade em que a pessoa está inserida.
Sendo a linguagem e comunicação o aspecto fundamental para as interações sociais, aquisição de conceitos, aprendizagem e elaboração do pensamento, torna-se essencial que o educando tenha acesso a todas as possibilidades de comunicação receptiva e expressiva. Para tanto serão utilizados:
1. “Tecnologia Assistiva [TA] é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.” (CAT/SEDH 2009).
1.1. Tecnologias de alto custo [TAA] – software [DOSVOX, Virtual Visión, Jaws], sintetizadores de voz, máquina Perkins, Loops, Display Braille – acionadores, lupas eletrônicas, CCTV, Telelupa, computadores, telefones, bengala, andador.
1.2. Tecnologias de baixo custo [TAB] - sistema de calendário, prancha de comunicação, plano inclinado em papelão ou madeira, letras móveis [EVA, Plástico, madeira, caderno de madeira], pré-bengala, tablado de ressonância, quartito, pratos, talheres, facas, cortador de unhas.
2. Comunicação Alternativa e Aumentativa
O termo Comunicação Alternativa e Aumentativa é utilizado para definir outras formas de comunicação como o uso de gestos, língua de sinais, expressões faciais, o uso de pranchas de alfabeto ou símbolos pictográficos, até o uso de sistemas sofisticados de computador com voz sintetizada (GLENNEN, 1997).
2.1. Comunicação formal convencional: língua de sinais, sistema Braille, Fala, Alfabeto Manual, escrita, sistemas de comunicação aumentativa e alternativa [Bliss, PCS, COMPIC, PECS, e outros].
2.2. Comunicação Não formal: sistemas de calendários, figuras, desenhos, objetos, gestos naturais, expressão corporal e outros.
Coletânea UFC-MEC/2010: A educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar - Fasciculo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla(2010).